quarta-feira, 26 de março de 2008

Entrevista à ENERAC (Sr. Virgílio Ferreira)


1) Como surgiu este projecto?

Como as energias renováveis, hoje em dia, são uma área emergente, é uma necessidade absoluta para a comunidade recorrer a estas para substituir as energias fósseis, antes de mais, por uma questão ambiental pois as energias fósseis são, entre outros, grandes libertadores de CO2 e o CO2 é uma enorme problema no efeito de estufa.
No nosso ponto de vista, é uma questão de sobrevivência porque se continuarmos a consumir combustíveis fósseis, as alterações climáticas serão de tal ordem que as dificuldades de sobreviver neste planeta serão enormes.
A problemática do abastecimento dos combustíveis fósseis é o facto de que as reservas de petróleo serem cada vez menores e ao mesmo tempo essas reservas estarem situadas em zonas geopolíticas controversas como é o caso do Médio Oriente que tem um ambiente político muito instável. Assim, a necessidade de energias renováveis é evidente, por isso, a nossa empresa embarcou nesta ideia. E nós temos uma perspectiva muitíssimo ecológica.
A nossa empresa surgiu de uma junção de gerações, a do pai que tinha alguma experiência em gestão com a experiência do filho de âmbito mais técnico.

2) Há muita gente interessada em adquirir este tipo de energia?

Sim. Demorou muito tempo às pessoas interiorizarem toda esta problemática. Mas, hoje, por força dos media que estão a fazer uma campanha imensa. Acho que a generalidade da população minimamente educada deste país está consciente da necessidade de fazer instalações de energias renováveis, sendo elas quais forem, sendo que, obviamente, hoje as mais fáceis são as chamadas energia térmica solar.
Para além de haver gente interessada, hoje em dia, também existe legislação desde Junho de 2006 que obriga que todas as novas moradias, ou prédios de qualquer tipo, serem obrigados a instalar uma determinada quantidade de painéis solares.

3) As instalações deste tipo de energias são muito complexas? E os orçamentos são elevados?

Tudo depende das instalações. Se estivermos a falar de energia térmica solar numa moradia é efectivamente uma instalação muito pouco complexa, muito simples e relativamente barata. Se estivermos a pensar em energia hídrica, numa central hídrica, obviamente é muito mais complexa ou, por exemplo, um parque eólico, também tem muita complexidade.
Vou fugir um pouco à entrevista para vos mostrar alguns pontos que me parecem interessantes, por exemplo, neste momento, em Portugal, existe um forte investimento na área da energia eólica, inclusivamente há uma empresa alemã que está a instalar aqui, o que se chama em gestão, um cluster, isto é, um grupo de empresas que são complementares entre si. Essa empresa está a construir um conjunto de fábricas, na zona de Viana, para produzirem aerogeradores: as torres, as ventoinhas, as pás, tudo o que está relacionado. Quer para instalar em Portugal, quer para exportar.
No caso da energia eólica, a complexidade está envolvida com o tamanho, a própria instalação das torres é muito complicada, para levar os aerogeradores para os montes é necessário abrir caminhos, todo um sistema de transportar...
Há uma aposta fortíssima do governo português concretamente, e começamos a ser um dos grandes produtores de energia eólica da Europa e isto tem um aspecto interessante, é que a energia eólica é um tipo de energia que não é acumulável, ou melhor, é acumulável mas é produzida em determinados momentos que, às vezes, não há necessidade de consumir. Só produzo energia eólica quando há vento e às vezes há vento quando não necessito de energia. Então, coloca-se o problema: o que fazer à energia do vento que produzo mas não consumo? Construindo barragens!
Lançaram agora um concurso para construir uma série de barragens, barragens essas que servem para produzir energia hídrica. Mas como é que produzindo energia hídrica, vou utilizar barragens para guardar energia eólica? A energia produzida é sempre hídrica, simplesmente, quando estou a produzir energia eólica que não preciso, em vez de deitar fora, vou utilizar essa energia para bombear, para trazer a água que está em baixo para cima. Chamam-se barragens reversíveis. Neste caso, a instalação é complexa, mas há outros tipos de energia, como a biomassa. É uma das áreas que em Portugal se está a desenvolver e nós (empresa) estamos muito interessados.
A diferença da biomassa para a eólica é que a eólica só produz energia quando há vento, enquanto que a biomassa, posso utilizar onde quiser, é mais descentralizada, pode ser usada quando queremos. Também a hídrica é limitada, só produzimos energia quando há água.
A complexidade das instalações da biomassa depende do tipo de instalação. Posso utilizar apenas para aquecimento, mas também posso produzir electricidade. Utilizando a biomassa para aquecer água e daí produzir energia eléctrica.
Há um professor em Portugal que diz: “o complemento da eficiência energética é a poluição”. Por exemplo, se eu tiver 1kl de biomassa e tentar tirar energia desse tipo se fizer energia eléctrica, eu provavelmente tenho uma eficiência por volta dos 28%, como o complementar de 28% é 72%, significa que 72% será poluição. Se utilizarmos a biomassa para aquecimento temos uma eficiência de 50%. O mais eficaz é tentar fazer calor e electricidade. Aproveito 50% de calor e 28% de electricidade, então aproveito 78%.
O maior nível de eficiência energética é feita com a cogeração, isto é a produção simultânea de calor e electricidade. Estas são instalações mais complexas e mais caras.

4) Qual é a área de Portugal em que a sua empresa faz instalações? Quais as áreas que se destacam?

Norte de Portugal: Braga, Viana... Para já é apenas pelo Norte. Somos uma empresa relativamente jovem.
No estrangeiro ainda não, mas iremos fazer na Galiza, para já é só.

5) Fazem instalações no estrangeiro? Vendem mais do que em Portugal? Quais as áreas que se destacam?

Sabem que sempre que vem um produto novo, quem compra primeiro, o pioneiro, é sempre um indivíduo com formação e com capacidade económica para puder correr o risco de ser o pioneiro. Ao ser pioneiro vai experimentar e aí pode perder e precisa de capacidade monetária para arriscar.
Neste momento ainda estamos na fase de um certo pioneirismo, assim, quem compra são as pessoas com uma classe média alta. Mas, por outro lado, como o Estado obriga é evidente que a distinção do extracto económico não se nota.
Quem compra é a classe média alta, embora com uma tendência aceleradíssima para estar vulgarizado.

6) Qual o nível económico das pessoas que mostram interesse em adquirir energias? E as que adquirem?

A percentagem irá crescer imenso, neste momento é imensurável. Na Grécia, um painel solar tem aproximadamente 2m2, aquilo que a legislação obriga é que por cada pessoa deve haver o equivalente a 1m2. Na Alemanha por cada 20 pessoas há 1m2. Em Portugal, nem 200 pessoas por 1m2.
Como somos um país com muito sol, estou convencido que em meia dúzia de anos isto vai virar tudo, excepto nas habitações que já estão feitas. Aí é mais complicado.

7) Qual a percentagem aproximada das pessoas que adquirem?


Neste momento, até aqui, os particulares são os pioneiros, daqui para a frente irão ser as empresas e os serviços.

8) Quem adquire mais, as empresas ou os particulares?

Relativamente ao consumidor: com os custos de exploração gasta-se menos energia; a factura de energia é mais pequena e ao fim de x tempo este investimento está pago e a partir daí tem uma parte de borla.
Ao ambiente: não libertamos CO2 e outros gases do efeito de estufa.

9) Quais os benefícios deste tipo de energia relativamente ao consumidor e ao ambiente?


Já respondi anteriormente a esta questão, em termos económicos. E toda a gente sabe os benefícios que este tipo de energias traz ao ambiente.

10) Como se encontra Portugal relativamente aos países que são adeptos da energia solar?

Estas coisas não podem ter uma visão estática, de repente as coisas virão. Nós, relativamente, às energias, vamos desenvolver-nos a uma velocidade impressionante. Dentro da Europa, Portugal tem uma situação privilegiadíssima porque a energia solar tem a ver com a chamada insolação - quantidade de sol. Nós estamos no sul da Europa, temos muitas horas de horas, temos mais de 2000 horas de sol por ano, enquanto que a Alemanha tem 1000.

11) O governo apoia financeiramente as pessoas que adquirem?

Apoia, então a partir deste orçamento de 2008 - orçamento de Estado - deduz à volta de 750€, que já é um valor interessante. Se bem que em Espanha, o apoio é maior. Nós estamos a falar de energia solar térmica para aquecimento de águas quentes - águas quentes sanitárias - e aí é importante que o problema do ambiente não é só CO2, também +e falta de água, e quando estamos a lavar os dentes e não fechamos a torneira, estamos a gastar água e quando tomamos banho, curiosamente, podemos poupar imenso: um chuveiro em média debita 18 litros por minutos, se quisermos tomar banho de água quente aquecemos 18 litros de água por minuto, se eu utilizasse redutores de caudal - que modifica a bolha de água - sou capaz só de gastar 10 litros, ou seja, eu gasto menos energia nessa proporção. Em Portugal, ainda não interiorizamos muito isso.

12) Já contactaram clientes com este tipo instalação há algum tempo, no sentido de se inteirarem da (in)satisfação dos mesmos relativamente ao serviço?

Já. E de uma maneira geral, nós temos questão de fazer um bom serviço. No caso da energia solar térmica, os painéis que vendemos têm um certificado, um carimbo de certificação europeia que se chamar Solar Keymark.

13) Importa mais materiais de energia solar do que exporta?

Importamos tudo, porque somos pequenos não temos capacidade de produção. E nestas coisas funciona uma coisa que se chama economias de escala e portanto nós trabalhamos com a maior fábrica da Europa e como tal, como ela é muito grande, tem muito dinheiro para fazer investigação, tem boa tecnologia e nós preferimos uma boa tecnologia porque estamos num mercado alargado, num mercado comum.

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